Ao longo da história, diferentes manifestações sociais encontraram na arte uma forma poderosa de expressão — e nenhuma linguagem atinge tão diretamente o coração das pessoas quanto as palavras combinadas à melodia.

Em tempos de injustiça, opressão ou desejo de mudança, a voz do povo muitas vezes ecoa através de canções que transcendem fronteiras e se transformam em símbolos de resistência.

Neste contexto, selecionamos 10 músicas internacionais que ultrapassaram o entretenimento e se consolidaram como verdadeiros hinos de protesto.

Confira abaixo:

"Blowin' In The Wind" - Bob Dylan (1963)

A música de Dylan é onsiderada um hino do movimento pelos direitos civis e da contracultura dos anos 60, questionando a guerra, a injustiça e a liberdade.

Confira a tradução de um trecho da letra:

"Quantas estradas um homem deve percorrer
Para poder ser chamado de homem?
Quantos oceanos uma pomba branca deve navegar
Para poder dormir na areia?
Sim, e quantas vezes as balas de canhão devem voar
Antes de serem banidas pra sempre?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
"



"A Change is Gonna Come" - Sam Cooke (1964)

A música é inspirada pelas experiências de discriminação racial de Cooke. Escrita em meio a um clima de segregação racial e luta por igualdade, ela expressa esperança e resistência diante da injustiça.

Como no trecho traduzido:

"Eu vou ao cinema
E vou ao centro da cidade
Alguém continua me dizendo: "não fique por aqui"

Faz tanto tempo
Demorou muito pra chegar, mas eu sei
Que a mudança vai acontecer
Oh, sim, vai

Então eu vou até meu irmão
E digo: "Irmão, me ajude, por favor"
Mas ele acaba me empurrando
De volta aos meus joelhos

Senhor, houve momentos em que pensei
Que não aguentaria por muito tempo
Mas agora acho que sou capaz de
Seguir em frente"




"Imagine" - John Lennon (1971)

Uma utopia pacifista do eterno integrante dos Beatles que propõe a eliminação de fronteiras, religiões organizadas, propriedade privada e sistemas que, segundo ele, separam as pessoas.

Escrita em meio ao clima tenso do pós-guerra do Vietnã, do auge da Guerra Fria e dos diversos movimentos sociais dos anos 60 e 70 (direitos civis, feminismo, antinuclear, etc.), "Imagine" convida o ouvinte a imaginar um mundo sem divisões, guerras, ou ganância — um mundo idealista e unido pela humanidade.

"Imagine que não houvesse nenhum país
Não é difícil imaginar
Nenhum motivo para matar ou morrer
E nem religião, também

Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
"



"Fight The Power" - Public Enemy (1989)

É um dos manifestos mais contundentes do rap político e uma poderosa crítica à opressão racial, à brutalidade policial e ao sistema dominante nos Estados Unidos. Tornou-se um símbolo de resistência negra e um marco da cultura hip hop.

A música foi encomendada por Spike Lee para o filme “Do the Right Thing” (1989), que também tratava de racismo estrutural e conflito urbano no Brooklyn, Nova York.

Confira um trecho traduzido:

"Enquanto o ritmo é feito pra te fazer dançar, o que importa
É que a rima foi feita pra preencher sua mente
Agora que você percebeu que o orgulho chegou
Temos que mandar a mensagem pra te fortalecer
Do coração, é um começo, uma obra de arte
Para revolucionar, provocar mudança — nada de estranho nisso
Povo, povo, somos todos iguais
Não, não somos iguais, porque não conhecemos o jogo
O que precisamos é de consciência
não podemos ser negligentes
Você diz: “O que é isso?”
Meu querido, vamos direto ao assunto:
condicionamento mental de autodefesa
Invada o sistema
Você tem que agir com o que sabe
Pra fazer todo mundo enxergar
Que é preciso combater as forças dominantes

(Quero ouvir vocês dizerem)
Combata o poder (Quero ouvir vocês)
"



"Killing In The Name" - Rage Against The Machine (1992)

A canção foi escrita logo após o caso de Rodney King, um homem negro brutalmente espancado por policiais em Los Angeles, em 1991, que apesar do vídeo gravado da agressão, foram absolvidos, o que gerou protestos massivos e violentos na cidade.

"Killing In The Name" se tornou um dos protestos musicais mais explosivos e emblemáticos contra a brutalidade policial, o racismo institucionalizado e o autoritarismo nos Estados Unidos.

Como no trecho:

"Aqueles que morreram são justificados
Por usarem o distintivo, eles são os brancos escolhidos
Você justifica os que morreram
Por usarem o distintivo, eles são os brancos escolhidos
Aqueles que morreram são justificados
Por usarem o distintivo, eles são os brancos escolhidos
Você justifica os que morreram
Por usarem o distintivo, eles são os brancos escolhidos

Alguns daqueles que trabalham nas forças [policiais]
São os mesmos que queimam cruzes
"



"Sunday Bloody Sunday" - U2 (1983)

Aborda o conflito na Irlanda do Norte, especialmente o evento de 1972 conhecido como "Domingo Sangrento", no qual soldados britânicos atiraram contra manifestantes civis desarmados durante um protesto pelos direitos civis na cidade de Derry, na Irlanda do Norte. O protesto era contra a política do governo britânico de prender suspeitos sem julgamento.

"Garrafas quebradas sob os pés das crianças
Corpos espalhados num beco sem saída
Mas não vou atender ao clamor da batalha
Ele me encurrala, me encurrala
Contra a parede

Domingo, domingo sangrento
"



"War Pigs" - Black Sabbath (1970)

Certamente um dos hinos mais poderosos do rock contra a guerra, a hipocrisia política e a elite dominante. Escrita no auge da Guerra do Vietnã, a canção critica de forma dura os líderes políticos e militares que mandam os pobres para morrer enquanto se escondem atrás de suas posições de poder.

Veja o trecho traduzido:

"Políticos se escondem
Eles apenas iniciam a guerra
Por que eles deveriam sair para lutar
Eles deixam esse papel para os pobres

O tempo vai mostrar a força de suas mentes
Fazendo guerra só por diversão
Tratando as pessoas como peões num jogo de xadrez
Esperando até que o dia de seu julgamento chegue, sim!
"



"Get Up Stand Up" - Bob Marley & The Wailers (1973)

Escrita após Bob Marley & The Wailers excursionarem pelo Haiti e ficar impressionado com a pobreza do país, a faixa se tornou um dos hinos mais poderosos do reggae e da luta por justiça, liberdade e direitos humanos.

Com uma batida envolvente e uma letra direta, a canção convoca as pessoas a se levantarem e lutarem por seus direitos, recusando a passividade diante da opressão.

"Estamos fartos e cansados
dos seus jogos de “ismos” e “cismas”
Morrer e ir para o céu em nome de Jesus, Senhor
Nós sabemos e entendemos
Que Deus Todo-Poderoso é um homem vivo
Você pode enganar algumas pessoas por um tempo
Mas não pode enganar todo mundo o tempo todo
Então agora que vemos a luz
(O que você vai fazer?)
Nós vamos defender os nossos direitos
(Sim, sim, sim)
"



"Spanish Bombs" - The Clash (1979)

Lançada no álbum "London Calling", é uma canção profundamente política e poética, que faz referência direta à Guerra Civil Espanhola (1936–1939) e às tensões políticas e sociais que ainda ecoavam na Espanha nas décadas seguintes.

Veja um trecho traduzido:

"Canções espanholas na Andaluzia
O local dos tiros nos dias de 1939
Oh, por favor, deixe a janela aberta
Federico Lorca está morto e se foi
Buracos de bala nos muros do cemitério
Os carros pretos da Guardia Civil
Bombas espanholas na Costa Rica
Estou chegando num DC-10 hoje à noite
"



"One" - Metallica (1989)

Lançada no álbum "...And Justice for All", ela é um grito angustiado contra os horrores da guerra, contado sob a perspectiva de um soldado gravemente ferido, que perdeu quase todos os sentidos — mas permanece consciente.

A canção é inspirada no romance "Johnny Vai à Guerra" (1939), de Dalton Trumbo, que também virou filme. O livro conta a história de um jovem soldado que sobrevive a uma explosão na Primeira Guerra Mundial, mas acorda em um hospital militar sem braços, pernas, visão, audição ou fala. Preso em seu próprio corpo, ele está consciente, mas sem forma de se comunicar.

Veja um trecho traduzido:

"Escuridão, me aprisionando
Tudo o que vejo, horror absoluto
Eu não posso viver, eu não posso morrer
Preso em mim mesmo, o corpo é minha cela
A mina terrestre tirou minha visão
Tirou minha fala, tirou minha audição
Tirou meus braços, tirou minhas pernas
Tirou minha alma, me deixou com a vida no Inferno"